Novela acerta com personagem de atriz negra
postado por Cleidiana Ramos @ 4:09 PM
A Globo tem um histórico de derrapar mesmo quando tenta dar destaque a personagens interpretados por atores negros em suas novelas, principalmente, quando se trata de mulheres.
Ainda ecoa a polêmica do tapa da personagem de Lília Cabral na interpretada por Taís Araújo em Viver a Vida. A cena da Helena de Taís ajoelhada diante da raivosa mãe de Luciana, na semana da Consciência Negra, chocou e provocou protestos dos movimentos negros.
Sem falar nas novelas históricas que abordam a escravidão onde a escrava é sempre figurante ou o degrau para as cenas da mocinha, quando não a vilã de segundo escalão. Ou a primeira novela das 19 horas com protagonista negra (mais uma vez Taís Araújo) sendo intitulada de Da Cor do Pecado.
Mas na boa e surpreendente Cordel Encantado, que vai ao ar às 18 horas, tenho visto uma agradável surpresa: Maria Cesária, a personagem vivida pela jovem e bela atriz Lucy Ramos. O amor que nasceu entre ela e o Rei Augusto (Carmo Dalla Vecchia ) tem sido tratado sem exageros, com um romantismo tocante.
As autoras Thelma Guedes e Duca Rachid tem fugido de clichês como a mulher negra sensual que enloquece o estrangeiro. Pelo contrário, a construção mostra uma mulher oprimida, humilhada e desvalorizada até pelo próprio pai (vivido por Tony Tornado), descobrindo através de um amor inesperado suas virtudes e sabendo responder até com altivez aos que tentam explorar a sua pretensa ingenuidade como nas cenas com a Duquesa Úrsula, papel de Deborah Bloch.
Outra coisa bem interessante em torno de Maria Cesária é a clara inspiração do seu personagem no romance Como Água para Chocolate, pois assim como a protagonista do livro ela passa suas emoções para a comida.
Fica aqui a torcida para que as moças não percam a mão. Aliás, a novela que combina excelente enredo, recheado de referências literárias, bons textos e belas imagens, com uma preocupação rara na construção dos diálogos e humor na medida certa me fez voltar a ver novela, coisa que não fazia há anos.
Será que ter mulheres à frente (a diretora é Amora Mautner), inclusive na colaboração e pesquisa é um indício da importância dada a esses detalhes e que levam aos acertos?
A novela Viver a Vida já está chegando ao fim. Antes do começo da trama uma das informações mais citadas sobre a obra de Manoel Carlos era a presença de uma primeira protagonista negra em novela do horário nobre da Globo, no caso a Helena vivida pela atriz Taís Araújo.
Os que esperavam que esta característica servisse de mote para discutir questões como o racismo, inclusive no mundo midiático, afinal a personagem é modelo, ficaram frustrados. A história de Helena, inclusive, perdeu espaço para outros dramas, como o da filha do seu ex-marido que ficou tetraplégica após um acidente.
Claro que todo mundo sabe que novela é entretenimento, mas a mesma emissora alardeia a necessidade de discutir questões relevantes para a sociedade brasileira em suas tramas. Esta inclusive é uma marca do próprio autor que já debateu ética médica, preconceito contra homossexuais, dentre outros temas.
Em tempos de debate sobre o racismo existente na sociedade brasileira e da defesa ou combate das ações afirmativas como as cotas para negros nas universidades, seria interessante ver o tema surgir num produto que coloca diante da TV milhões de pessoas.
A questão racial surgiu rapidamente e de forma tímida apenas após a cena em que o personagem de Lília Cabral esbofeteou o de Thaís Araújo e que foi veiculada na semana do Dia Nacional da Consciência Negra. A cena provocou protestos de segmentos do movimento negro organizado.
Um post sobre este episódio aqui no Mundo Afro (cliquem aqui para conferir) foi o mais acessado desde a criação do blog. A meu ver, Manoel Carlos perdeu uma boa oportunidade de mobilizar um debate sobre o racismo no País.
Agora que a trama está chegando ao fim, vale tentar saber o que vocês pensam sobre estas questões. Comentem.

Taís Araújo ao lado do autor de Viver a Vida, Manoel Carlos. Foto: TV Globo|Rafael França
A cena da novela Viver a Vida em que o personagem de Lília Cabral, Tereza, humilha Helena, vivida por Taís Araújo, indignou várias pessoas . Via e-mail ou em sites especializados, lideranças do movimento negro estão expondo seu repúdio às imagens exatamente na semana em que se comemora o Dia Nacional da Consciência negra.
Não poderia ser diferente, afinal Helena, negra, se ajoelha, chorosa, diante de uma enfurecida Tereza, branca, que lhe aplica um tapa no rosto. A moça recebe o tapa e não reage. Um assunto espinhoso e uma cena forte. O assunto, com certeza, vai render.

Taís Araújo é a mais nova Helena de Manoel Carlos em Viver a Vida. Foto: Berg Silva | Agência O Globo
Hoje começa a nova novela das oito, que na verdade começa quase nove, da Globo: Viver a Vida. Não é que eu tenha me tornado uma noveleira de carteirinha- faz tempo que uma trama não prende a minha atenção-, mas a novela de Manoel Carlos está fazendo história: é a primeira vez que uma atriz negra protagoniza o chamado horário nobre da Globo.
Vale ressaltar que aqui não vai nenhum tipo de comemoração, pois isto é assunto muito mais complexo, mas apenas um registro que considero importante.
Taís já tinha feito a primeira protagonista negra em uma novela da Globo: Da Cor do Pecado. Mas o primeiro trabalho da atriz como dona do principal papel foi Xica da Silva na extinta Rede Manchete, em 1996.